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15 mitos sobre o autismo e como sua aceitação pode combater o capacitismo

Como  falei em um texto anterior sobre autismo e sexualidade, o autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que afeta milhões de pessoas e  tem uma diversidade de sinais e sintomas, relacionados à fala, comunicação, emoção, inteligência, atenção, foco, memória e outros vários processos psicológicos e neurológicos. Nesse texto vamos quebrar alguns tabus sobre o autismo.

 

O autismo e o capacitismo

 

As causas para o autismo ainda são um mistério. Sabe-se que é um transtorno que pode ter sua origem na genética e no ambiente, mas não existe um fator causador encontrado. O tratamento varia entre profissionais da psiquiatria, neurologia, fonoaudiologia, psicologia, nutrição, psicopedagogia, assistência social, fisioterapia,entre tantos outros.

Infelizmente, o capacitismo é um agente estruturante na sociedade brasileira, colocando pessoas autistas em espaços subalternos dos locais de decisão e poder. Com isso, a luta autista busca pelo protagonismo de pessoas neurodivergentes, e devemos pensar sobre de onde vêm tais falas e atitudes que impedem uma pessoa autista de poder ocupar o lugar que quiser na sociedade.  Devemos pensar, então, quais são os principais tabus relacionados ao autismo e suas consequências.

 

Conscientizar para combater: falas e atitudes capacitistas machucam

 

Cada fala e atitude capacitista pode impactar toda uma vida. Vamos colocar em tópicos e explicar o porquê dessas frases e preconceitos serem discriminatórios, talvez você já tenha ouvido algumas delas antes:

 

  • Autistas não são empáticos

Essa frase é completamente infundada e chegou a levar a uma polêmica envolvendo um prefeito no sul de Minas Gerais. Nós autistas somos sim empáticos! Apenas temos dificuldade de entender os sinais não-verbais que as outras pessoas expressam em suas emoções e isso nos leva a ter comportamentos que as outras pessoas julgam como “não empáticos”.

Por isso, para a gente é muito importante você falar o que sente, pois talvez esses sinais não-verbais podem não ser o suficiente!

 

  • Autistas não são capazes de amar

Essa ideia, além de capacitista, é muito insensível! Nós autistas podemos amar sim! Podemos namorar, casar, ter amigos e amar nossos familiares. Todos nós temos capacidade de sentir emoções e afeto.

 

 

  • Autistas não mentem

Apesar de um dos sinais do autismo ser a dificuldade de abstração, a mentira é uma habilidade social que exige muita abstração e conhecimento social, então, autistas podem, sim, mentir!

Às vezes até com algumas dificuldades, como qualquer pessoa pode ter dificuldade ao mentir, mas nada que invalide que podemos aprender a nos relacionar socialmente e, quem sabe, contar algumas mentiras se essa for a nossa vontade.

 

  • Com intervenção correta, autistas podem sair do espectro 

Não existe cura para o autismo. Afinal, autismo não é uma doença e, portanto, autistas não podem sair do espectro autistas. 

É importante entender que o espectro autista não é uma linha. Se fossemos expressar graficamente o espectro autista, ele está muito mais relacionado com um círculo. Isso acontece pelo espectro significar algo que tem múltiplas formas de manifestação, não se comportando de forma linear. Assim, existem várias formas do autismo se apresentar. O que pode acontecer é pessoas autistas transitarem dentro desse espectro.

 

  • Autistas são gênios 

Autistas podem ter uma capacidade de memorização e compreensão do mundo de forma muito singular, mas isso não os tornam gênios. 

Existem pessoas autistas com superdotação e grande interesse em determinadas áreas, levando-os a terem habilidades acima da média, mas não podemos dizer que todos sejam gênios!

 

  • Autistas não mantém desejo e relações sexuais 

Autistas têm desejos por pessoas de diferentes identidades de gênero e possuem diferentes orientações sexuais.

Autistas também podem manter relacionamentos afetivos e relações sexuais. Dessa forma, é muito importante se informar acerca de educação sexual para autistas adolescentes e adultos.

 

  • Autistas vivem no mundo deles 

Não é bem assim! Nós autistas vivemos no mundo real, mas o entendemos e o experimentamos de formas singulares.

Temos nossas vivências baseadas em experiências, no contexto social e nas estruturas neurobiológicas que permeiam nossas vidas – como qualquer outra pessoa! O que acontece é que cada pessoa, cada experiência e vivência é pessoal e única.

 

 

  • Autistas são doentes mentais 

Mais um mito! O conceito de doença mental tem sido revisto por muitos profissionais e pesquisadores da área da saúde. Nesse vídeo, o psicólogo Pedro Lucas diferencia questões como doença, síndrome, transtorno e distúrbio – o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, Logo, autistas não são doentes.

 

 

  • Autistas não conseguem fazer amigos

Autistas podem ter amizades e podem manter qualquer relacionamento social.

Apesar do TEA (Transtorno do Espectro do Autismo) estar relacionado à dificuldade na interação social e comunicação, existem diversas intervenções e mecanismos que ajudam as pessoas autistas a manterem relacionamentos saudáveis.

 

  • Autistas não conseguem ir para a escola, faculdade, trabalho, etc. 

Autistas podem ir para a faculdade, estudar uma profissão, participar de movimentos sociais e até da política! Por exemplo, você sabia que em Guarulhos existe um vereador autista? O primeiro do Brasil!

 

  • Crises são birras

As crises em pessoas autistas acontecem devido à sobrecarga mental, relacionada ao processamento de informações sensoriais ou às situações que desorganizam a estrutura de pensamento de pessoas com autismo. 

Isso os leva a ter comportamentos agressivos consigo mesmos e com os outros. Nem todo autista têm as mesmas crises, mas todo autista pode entrar em crises.  É importante respeitar esse momento e cuidar para a pessoa não se machucar e nem machucar  outras pessoas.

 

  • Todo autista é igual

Outra mentira. Autistas são diversos, por isso não existe “cara de autista”. Cada autista se manifesta de um jeitinho e de uma forma totalmente diferente, sendo errado dizer que somos iguais ou reduzir o que somos pelos nossos sinais e sintomas.

 

  • Autismo só acontece em meninos

Errado! Pessoas autistas são de diversas identidades de gênero. Existem autistas mulheres e o movimento autista tem questionado a predominância de gênero em autistas, devido aos diagnósticos em mulheres estarem crescendo nos últimos anos.

 

 

  • Autistas são anjos azuis

Não, nós somos seres humanos e não podemos ter nossas imagens relacionadas tanto à pureza, quanto à inocência, pois essa visão está ligada a um panorama capacitista de que pessoas com deficiência não são humanas o suficiente para viverem todas as emoções normalmente.

Nós autistas não somos anjos, demônios, fadas ou unicórnios: somo humanos! E queremos que nossa humanidade seja reconhecida.

 

  • Autistas podem ser funcionais

O que é ser funcional? Se pararmos para pensar, existem autistas que têm alta funcionalidade na área de matemática, mas não possuem a mesma habilidade na linguagem oral, enquanto outros autistas têm uma linguagem oral bem desenvolvida, mas ainda estão aprendendo a ler e escrever.

Tudo isso nos leva a questionar: para quem serve o termo “funcional”? Tal termo é  capacitista, pois relaciona o valor da pessoa a uma suposta “função” na sociedade. 

Nós autistas temos que ter funções em nossas vidas e não apenas para os interesses da sociedade. Uma pessoa que não faz faculdade não é menos “funcional” por isso.

 

O porquê devemos continuar falando sobre o autismo

 

Esses são alguns mitos e inverdades que precisam ser quebrados. Ainda existem tabus e ideias bem mais perigosas e elas permeiam a sociedade de maneira cotidiana, colocando muitas pessoas na marginalidade. É importante entender que o autismo é tão complexo como a nossa humanidade e nossas vivências precisam ser respeitadas.

 

E você, conhece uma pessoa autista? Como essa pessoa é? Conhece empresas e espaços de trabalho acolhedores à população Autista? Apoie-os avaliando locais amigáveis na nossa plataforma!

 

Texto por Jonas Marssaro
Revisão por Domenique Leite Rangel
Ilustração por Thales Bernardi
Organização por Marianna Spindola Godoy

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