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“Junto ao aumento de candidaturas LGBTI+ temos o maior índice de candidatos com títulos religiosos da História” diz cofundador da Nohs Somos em entrevista

Bruno Jordão, diretor de startup de impacto social voltada à segurança e bem-estar da população LGBTI+, explica importância da representatividade dessa comunidade na política

Mesmo em um país plural, é possível observar que a política brasileira não é diversa. Ao analisarmos as candidaturas deste ano às prefeituras municipais, verificamos que predominam homens brancos, de 46 a 55 anos e com ensino superior completo, segundo pesquisa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e do Coletivo CommonData. Em contrapartida, lideranças que se identificam com a causa LGBTI+ buscam, mais do que nunca, espaço nas urnas para que seus discursos possam ser ouvidos.

“Nos últimos anos, houve o fortalecimento de um fenômeno internacional de aumento de conscientização e engajamento político, principalmente pelas gerações mais jovens (Millennials e Geração Z). Isso ocorre junto a diminuição de desigualdades e acesso a mecanismos políticos como ambientes universitários, coletivos e afins”, explica em entrevista Bruno Jordão, cofundador e diretor de comunidade e de operações da startup de impacto social Nohs Somos. A empresa, que tem como foco a segurança e bem-estar da população LGBTI+, lançou durante o período eleitoral de 2020 materiais educativos com o objetivo de conscientizar sobre a escolha dos próximos representantes às prefeituras e câmaras municipais. Dentre eles está o “Guia de Bolso das Eleições para LGBTI+ Cansades”, criado com base no Programa Vote com Orgulho, da Aliança Nacional LGBTI+. 


O fato pode ser observado nas eleições municipais deste ano. De acordo com levantamento da Aliança Nacional LGBTI+, houve um recorde de pré-candidatos pertencentes a esta comunidade. A pesquisa mostrou que foram ao menos 435 candidatos apoiadores da causa em todo o Brasil, número muito superior aos 180 candidatos das eleições de 2016.

 

Em entrevista, Bruno destaca a importância de candidatos LGBTI+ estarem na disputa eleitoral deste ano. Confira: 

 

  • Neste ano, o Brasil obteve o recorde de candidaturas LGBTI+. Na visão da Nohs Somos, o que esse aumento de candidaturas pode significar?

 

Bruno Jordão — Esse aumento pode trazer maior representatividade política, maior senso de pertencimento da comunidade LGBTI+ à sociedade. No entanto também pode significar lutas mais acirradas, confronto político, mais debates, será um momento que exigirá articulação por parte da comunidade.

 

Junto ao aumento de candidaturas LGBTI+, temos o maior índice de candidatos pastores, padres, bispos da História. Grupo esse que, na política, tem histórico de não respeitar a laicidade do estado, e que geralmente vai contra a aceitação da comunidade LGBTI+. Costuma, inclusive ser a favor projetos como a dita “cura gay”, prática repudiada pelo Conselho Federal de Psicologia. 

 

  • Como os vereadores e prefeitos podem favorecer a comunidade?

 

Bruno — Dentre todas as suas tarefas, os prefeitos planejam para o seu mandato quais serão as prioridades dos gastos públicos do município. Criam planos, programas e ações para suprir as necessidades da população. E nisso tudo é dever incluir a participação e as demandas da população LGBTI+. Já vereadores fiscalizam as atividades de prefeito e podem propor projetos de lei que ajudem LGBTIs+, em temáticas como o uso do nome social nos órgãos do município e a proibição e penalização de funcionários públicos do município que sejam LGBTIfóbicos. 

 

  • Diante da polarização da política atual, por que é importante votar em candidatos que são da comunidade LGBTI+ ou apoiam a causa?

 

Bruno — Por representatividade: somos 10% da população e apenas 0,1% dos candidatos; por inclusão, já que a pauta LGBTI+ não é debatida no Legislativo e nossas principais conquistas vieram pelo judiciário; por políticas públicas que defendam pontos como uma educação mais inclusiva (60% dos estudantes LGBTI+ se sentem inseguros/as, 73% já foram agredidos/as verbalmente e 36% foram agredidos/as fisicamente na escola), saúde integral e segurança. 

 

Além disso, é preciso termos representantes que gerem mais oportunidades para capacitação profissional e inclusão no mundo do trabalho, para a geração de renda, e cultura comprometida com a difusão de valores e práticas que promovam a diversidade e reconheçam a cultura LGBTI+.

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