Pesquisar
Close this search box.

Qual o futuro do mercado de trabalho para LGBTIs e empresas amigáveis?

Penelope Bernardi

Entre mentorias, serviços de D&I e plataformas de avaliação, são projetos como o LGBT Mentoring e a plataforma da Nohs Somos que desejam mudar o atual mercado de trabalho desafiador para LGBTIs. 

Com o aumento do número de pessoas declaradamente LGBTIs fazendo parte do mercado de trabalho, muitos profissionais encontram dificuldades por conta de meios tradicionalmente pouco inclusivos.

É comum em qualquer contexto que as pessoas prefiram buscar conselhos e dicas de quem já passou por uma situação semelhante. Caso essa possibilidade não exista, a insegurança pode causar muito desconforto. No ambiente profissional não é muito diferente. 

Foi pensando nisso que muitos profissionais começaram a trabalhar diretamente com esse público. É o caso da plataforma para mapeamento de espaços amigáveis voltada  a comunidade LGBTI da Nohs Somos e o LGBT Mentoring, de Guilherme Neves, Gerente Global de Transformação e Operações de Recrutamento e Seleção da Nestlé, que iniciou um dos primeiros programas de coaching e mentoring focados nesse público. 

MERCADO DE TRABALHO PARA LGBTIS: O CENÁRIO ATUAL 

Para Guilherme, o mercado de trabalho atualmente está atingindo um patamar equilibrado em relação a quantidade de profissionais gays e lésbicas inseridos nas empresas, mas ainda é raro encontrar LGBTI+ em cargos de liderança. Esse dado se vê retratado na pesquisa do Center for Talent Innovation, que mostra que 33% das empresas no Brasil não contratariam LGBTI+ para cargos de chefia.

Por isso, desde a primeira vez que o Guilherme se pronunciou abertamente sobre sua vivência como homem cis, gay e líder profissional durante uma LIVE para uma Consultoria de Recrutamento, ele recebeu diversas mensagens relatando identificação e inspiração.  

A pessoa LGBTI+ passa por desafios profissionais que, na minha opinião, podem ser melhor encarados com apoio de mentores também LGBTIs. O fato da iniciativa ser aberta a qualquer profissional de qualquer indústria ou organização, enriquece ainda mais o programa”, salienta Guilherme Neves.

Algo bastante similar se passou durante as reuniões de co-criação da Nohs Somos, quando muitas pessoas LGBTIs demonstraram interesse em participar e ajudar a construir a solução. Isso só comprovou a necessidade de abrir um canal para diálogo direto com profissionais de todos os níveis e começar a construir uma base para que pessoas colaboradoras LGBTIs desenvolvam suas carreiras de forma sólida e empoderada. 

IMPORTÂNCIA DO APOIO DE PESSOAS COM VIVÊNCIAS SIMILARES

Em um ambiente onde ainda existe muita incerteza, os dados revelam que mais da metade (61%) dos profissionais gays e lésbicas optam por esconder sua sexualidade de seus líderes e colegas de trabalho por medo de perderem seus empregos. É possível perceber tal realidade em diversas vivências, basta escutar. Esses números, além de preocupantes para a comunidade no geral, ainda têm um impacto relevante no desempenho dessas pessoas dentro da empresa.

“Qualquer pessoa que não pode vivenciar sua personalidade de forma integral enfrenta mais desafios que as demais. E nossa orientação sexual, assim como nossa identidade de gênero, são peças importantes da nossa personalidade. Esconder partes de quem somos consome nossa energia.”

Pesquisas do Center for Talent Innovation indicam que um profissional que tem que se manter “dentro do armário” no ambiente de trabalho se engaja 30% menos nas atividades e propostas, inclusive tendo dificuldades em se relacionar com os colegas por viver constantemente pensando em formas de evitar expor sua realidade identitária.

Essas conclusões revelam uma necessidade importante de que as empresas busquem incentivar ambientes inclusivos para garantir uma própria sustentabilidade de seus negócios e também mostra que ainda há um caminho longo a ser seguido na construção de contextos saudáveis.

Para Guilherme, atualmente o meio profissional vem percebendo a urgência dessas mudanças, mas ainda não surgiram muitas propostas de mentoria especializadas. Isso pode acabar atrasando o processo dessas adaptações, já que o formato tradicional não é mais o indicado nessa situação. Porém, existem pessoas e empresas que como o Guilherme e a Nohs Somos, já estão investindo no movimento e pretendem encontrar um cenário diferente no país até 2022. 

UNIFICANDO CAUSAS NO MERCADO DE TRABALHO PARA LGBTIs

O conceito de locais de trabalho humanizados e focados em pessoas já faz parte da realidade de muitas empresas que assumem a mentalidade de crescimento e desenvolvimento. Isso se deve ao fato de que ao longo de anos de amadurecimento profissional, foi possível entender que um ambiente saudável e acolhedor proporciona uma produtividade muito maior tanto do indivíduo quanto do seu time.


Para amplificar essa ideia, as redes sociais e a cibercultura são essenciais como forma de unificar todos os agentes que lutam por uma mesma causa. Elas aumentam ainda mais a voz das comunidades, sempre trocando experiências e colocando a visão de cada indivíduo como um aprendizado. Essa mentalidade é a que vem ajudando tanto a Nohs Somos quanto a LGBT Mentoring a crescer e abrir caminho para outras iniciativas do mesmo gênero:

“Como temos muitos movimentos acontecendo simultaneamente, o risco é justamente o que já acontece há algum tempo, é de pulverização dessas “vozes”. Precisamos reunir todas essas iniciativas”, relata o Gerente Global de Transformação e Operações de Recrutamento e Seleção da Nestlé. 

BARREIRAS PARA O FUTURO

Apesar do cenário em movimento e das propostas otimistas, a comunidade LGBTI+ ainda tem muitas barreiras a enfrentar, principalmente para pessoas trans, travestis e não binárias. Os números para essa parcela da comunidade são ainda mais preocupantes e precisam de um olhar mais cuidadoso. 

Segundo pesquisas, a letra T da LGBTI+ sofre com uma realidade em que 90% de seus integrantes compõe um cenário de subemprego e prostituição, sendo esse um problema que ainda vai muito além dos ambientes mais inclusivos que vemos no país. 

As mentorias e evoluções no mercado de trabalho podem ser de grande ajuda em um futuro, mas ainda não conseguem atingir os problemas mais essenciais dessa parte da causa. Nesse sentido, a plataforma desenvolvida pela Nohs Somos tem um potencial imenso, já que tem a possibilidade de conectar a esse público locais, produtos e serviços amigáveis avaliados pela própria comunidade LGBTI+. Afinal, a falta de inclusão é um problema global que deve ser endereçado através de várias frentes.

EVOLUÇÃO E IDENTIDADE

Empresas como a de Guilherme Neves e a Nohs Somos estão surgindo com um mesmo propósito em todo o mundo e ganhando espaço pela sua urgência e necessidade. O mercado tradicional está, sim, abrindo as portas para profissionais LGBTI+ – o que tende apenas a aumentar no futuro. Porém, se quiser crescer de forma sustentável, precisa fazer isso de forma consistente!

A evolução é importante e não deve ser feita sem planejamento, pois envolve o futuro e o presente de centenas de profissionais que precisam se sentir confortáveis com suas realidades para garantirem possibilidades para todos.  

Com apoio de pessoas já inseridas no mercado, os novos funcionários vão pular etapas desgastantes de descobrimento identitário e vão poder focar suas energias em oferecer 100% do seu potencial como membro de uma empresa inclusiva. Você pode encontrar mais informações sobre como receber mentoria através do LGBT Mentoring aqui.

Conhece empresas e espaços de trabalho acolhedores à população LGBTI+? Avalie locais amigáveis na nossa plataforma!

Texto por Penelope Bernardi
Ilustração por Luan Gonzatti

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *