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Corpos livres: como desconstruir o tabu em relação a pelos?

Todo mundo tem pelo. Eles estão por todo o corpo, seja em pernas, braços, axilas, virilha e outras partes. Cientificamente, eles têm uma razão de ser. Regular a temperatura, aumentar de sensibilidade, proteger da fricção e até mesmo espalhar feromônios. Mas se os pelos têm toda essa utilidade, então por que nos depilamos? A gente fez uma breve pesquisa sobre a história da depilação e da liberdade dos corpos para poder ligar os pontos e entender como chegamos até aqui. E também nos perguntar: para onde será que vamos com essa história de arrancar os pelos?

Pelos na história

O debate acerca de pelos e cabelos sempre esteve em voga durante toda a história humana. Cada cultura deu e dá sua significação a eles. Certos tipos de penteado ou tamanho de barba podiam significar status ou algum papel social. No antigo Egito, pelos eram associados a uma boa higiene por conta das infestações de piolhos, tendo inclusive em sua faraó mais famosa, a Cleópatra, uma grande adepta. De acordo com os registros, foi na Antiga Grécia a primeira divisão de gênero relacionada à depilação, conferindo às mulheres aquele padrão de beleza sem pelos. Nas pinturas renascentistas, os corpos femininos eram expostos sem pelo algum. Foi somente com o impressionismo (em torno de 1860) que, de forma muito sutil, começamos a ver mulheres não depiladas representas na arte.

Por que nos depilamos?

Do final do século passado até agora, a indústria da beleza expandiu muito. Afinal, queriam – e querem! – vender produtos para a gente. Durante a segunda década do século passado, a moda ocidental sofreu grandes mudanças. Antes, as mulheres usavam longos vestidos que cobriam a maior parte de seus corpos, o que fez com que a depilação perdesse a importância que tinha. Com a moda feminina tornando-se mais “ousada”, vestidos mais curtos, como os flappers, que deixavam à mostra axilas e pernas, tornaram-se comuns. Em paralelo, o acesso das mulheres aos empregos nas fábricas também estimulou a exigência da depilação, já que os pelos eram vistos como algo íntimo e erótico.

Em 1915, foi comercializada a primeira lâmina de depilação feminina. Quinze anos depois, pedra pome e papel lixa estavam entre os métodos mais comuns de remoção dos pelos. Durante a segunda guerra mundial, em 1940, a lâmina elétrica surgiu e foi comercializada também para depilação feminina. Na década seguinte, as sobrancelhas de Marilyn Monroe viraram um padrão e muitas mulheres arrancavam seus pelos para tentar copiá-la.

Ao longo da década de 60, chegam a minissaia, os biquínis e as ceras depilatórias. Dez ano mais tarde, a versão em creme promete acabar com a dor da qual muita gente reclamava. Ao mesmo tempo, o movimento feminista junto ao movimento hippie pedia pela liberdade dos corpos. Era comum nesse meio ver mulheres com axilas não depiladas. Em 1990 a tecnologia da depilação à laser é desenvolvida e em 2000 ela se torna disponível dentro da casa das pessoas a partir dos aparelhos portáteis. Já na década seguinte, houve uma alta nas ceras com base em produtos caseiros, como açúcar ou mel, por serem uma alternativa menos agressiva que as demais.

E o Brasil?

Particularmente, a depilação brasileira – ou “brazilian wax” lá fora – tornou-se famosa na década de 80. O que significava arrancar absolutamente todos seus pelos pubianos. No mínimo, isso demonstra o quão importante é, para a cultura brasileira, manter suas mulheres sem pelos. Em fevereiro desse ano, houve uma polêmica envolvendo estúdios de estética que postaram em suas redes sociais vídeos de crianças sendo depiladas e pacotes de depilação para os pequenos. Cabe a gente se questionar o porquê de tudo isso.

Pressão estética e tabu

Assim, temos pelo menos 100 anos de indústria de depilação em alta. Todo esse século de publicidade acerca da remoção de pelos fez com que o imaginário coletivo não apenas se desacostumasse com a imagem de uma mulher com pelos, mas também o associasse à falta de higiene. O tabu é tão grande que nem nas próprias propagandas de depilação podemos ver pelos. E ao contrário do que o senso comum diz, removê-los pode causar danos à pele, aumentando a proliferação de fungos e bactérias e a ocorrência de infecções. A desassociação da noção de estética à higiene é fundamental para que avancemos sobre essa e outras questões. 

Se fizermos as contas, mulheres que se depilam com frequência passam, em média, 72 dias da sua vida arrancando pelos. Porém, isso tem mudado. Cada vez mais se questionam pressões estéticas que existem para lucrar com a nossa insegurança. Já parou pra calcular quanto você gasta com depilação, tanto em tempo, quanto em dinheiro? Você se sente bem com isso? Já fez algo, como deixar ir à praia, não vestir certa roupa que mostrasse seu corpo ou então vestir roupa demais, tudo por conta dos seus pelos?

Por um lado, o discurso feminista contemporâneo reitera que cada pessoa é dona de seu corpo e, portanto, livre para escolher o que fazer com ele. Por aqui a gente conversa muito sobre auto-aceitação e acredita que cada indivíduo decide sim sobre si. Mas até que ponto as nossas escolhas são só nossas, sem serem influenciadas por outras pessoas ou fatores externos? Somos seres sociais que buscam pertencimento e é bastante claro que o marketing usa isso a seu favor. 

E agora?

Mas o que será que devemos fazer com eles? Será que estamos cedendo às pressões estéticas quando nos depilamos? É errado gostar de se depilar? Conscientemente ou não, todas as decisões que tomamos são um posicionamento. Nossos pelos são ferramentas político-sociais e, como vemos neste artigo, isso não é de hoje.

No fim, o mais importante é estar ciente de tudo isso e se perguntar: estou fazendo isso para mim ou para os outros ? Independente da resposta, a escolha é sua. Com ou sem pelos, o que desejamos é uma sociedade livre de preconceitos.

Falando em preconceitos, talvez você se interesse pelo o post que fizemos sobre os dados atuais da lgbtfobia no Brasil!

O debate é aberto e gente sempre gosta de ouvir vocês. Como andam lidando com seus pelos?

Fontes: Nexo Jornal, Answers Video, Allure e SciHow

0 resposta

    1. Oi, Gabriel! Que incrível que você curtiu nosso conteúdo! Fazemos com o maior carinho. Esse post em específico foi feito pela Mari Godoy. Porém é super legal ressaltar que a maior parte das nossas publicações tem muita co-criação envolvida! A gente gosta de trabalhar junto e dar espaço pra vozes diversas. 🙂

    1. Oi, Gabriel! Que incrível que você curtiu nosso conteúdo! Fazemos com o maior carinho. Esse post em específico foi feito pela Mari Godoy. Porém é super legal ressaltar que a maior parte das nossas publicações tem muita co-criação envolvida! A gente gosta de trabalhar junto e dar espaço pra vozes diversas. 🙂

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