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Empatia de consultório: desafios no atendimento médico para mulheres que se relacionam com mulheres!

Respeito e inclusão não é algo a ser pedido, é algo que se exige. Que o preconceito está em todos os lugares não é novidade, mas se deparar com isso em uma situação de necessidade, como uma consulta médica, pode ser mais desconfortável e injusto. Entenda mais sobre o universo médico, parte das dificuldades de mulheres lésbicas, bissexuais, pansexuais e trans em consultas de rotina, e como podemos juntas, superar essas dificuldades.

Ah! Aqui é um espaço de aprendizado e principalmente: de cocriação. Concriamos pelas nossas diferenças, então se você não se sentiu representada, comenta lá em baixo e participa dessa construção!

As vezes me coloco no lugar da paciente LBT+ quando precisa de ajuda médica e percebo como elas perdem a voz e talvez nem percebam. O que era pra ser um esclarecimento de alguns anseios, se torna preconceito.

Baseado em vivências minhas, penso que na saída da consulta, se eu fosse a paciente ficaria com a dúvida: paguei por ajuda médica, ou pra ser questionada quanto a curiosidades preconceituosas? Talvez há Drs. que não aceitam nem a forma de pagamento “pink money”. 

De um minuto para outro, todas as dúvidas que uma paciente tem em mente, evaporam em forma de glitter neon, por receio de preconceito.

OBSERVO, LOGO JULGO.

Na medicina existe uma frase famosa utilizada ao longo de todo aprendizado, a qual sugere que o diagnóstico da paciente se inicia no momento em que ela levanta da cadeira da sala de espera e se dirige ao consultório. 

A ideia por trás disso é observar. Tudo que envolve a paciente pode contribuir para o diagnóstico em si: o jeito que ela anda, se esta mancando, se apresenta expressões sugestivas de dor, anseios e afins. 

O grande ponto é: observar é diferente de julgar

Entretanto, aquele papo de que “todas as informações são importantes”, nem sempre acabam sendo apenas técnico. As pessoas, de forma geral, escutam o que querem, na hora que lhes convém. E com médicos e médicas, pode não ser tão diferente, afinal, estamos falando de pessoas. 

A grande questão é o vínculo de necessidade, muitas vezes baseada em viés inconsciente ou curiosidades, que se estabelecem antes mesmo da empatia.

Quando a paciente procura por um auxílio médico, bem da verdade, é porque ela precisa de um conhecimento que ainda não possui, podendo ser num momento de fragilidade. Esse conhecimento é consequência de perguntas que serão feitas no consultório.

A SAGA DO HIPÓCRATES

A cultura médica foi construída sobre pilares sólidos de: homens brancos, heterossexuais e ricos. O “resto”, guarda em um potinho, e fecha! 

É evidente, com as mudanças sociais, que esse modelo não é mais sustentável. Se eu recordar os inúmeros atos que presenciei de preconceito, precisaria redigir uma enciclopédia.

É praticamente uma entrevista do Silvio: 

– Você só transa com mulheres?

Sim! 

– Mas nunca transou com homens?

Não…

– Tem certeza que você não transa com homens?

Tenho.

– Olha que esconder coisa de médico pode atrapalhar o diagnóstico… já vi muita mulher que transa “só com mulher” grávida do ex. 

– (Penso) Gostaria de ser a paciente, pra me fazer de louca e dizer que sou uma paquita da Xuxa, pra ver se o tom das perguntas mudam..

Talvez até role uma omissão em consultas, mas isso não é defeito de LGBTIs, isso é defeito de gente! Duvido que o hétero top que trai a esposa conta a verdade para proteger sua parceira de uma infecção sexualmente transmissível. 

Por vezes, penso que mulheres que se relacionam com outras mulheres optam em omitir informações, justamente para evitar o julgamento social, pois precisam de uma intervenção rápida, curativa, um acalento, um remédio…e não preconceito e falsas lições de moralidade. 

BARREIRAS SOCIAIS NO SISTEMA DE SAÚDE PARA LBGTIs

Com todo esse cenário, nos esbarramos ainda em dificuldades do sistema que só prejudicam mais ainda a nossa assistência para saúde sexual dessas pacientes, como: 

  1. O risco de doenças fica subestimado na população LGBTI, porque falta espaço de inclusão para falar a verdade.  Há medo de repercussões negativas. 
  2. O conteúdo científico para a comunidade médica, que ofereça informações na comunidade LGBTI é escasso. Essa população é sub representada em pesquisas.
  3. Leis sociais: alguns dados relataram que lésbicas e mulheres bissexuais são 6% menos provável que as mulheres heterossexuais de ter cobertura de seguro de saúde. Possivelmente está relacionado como não elegíveis para benefícios de seguro de saúde. 
  4. Resistência, pois a educação médica ao longo de muitos anos, foi pautada em bases muito conservadoras e hierárquicas. Mudar isso, pode levar algum tempo. 
  5. Muitos médicos não conseguem separar os ideais pessoais de um atendimento livre de julgamentos, por parte, isso também constituiu sua educação. 

Como você pode perceber, fica puxado né?! 

O que podemos fazer para reverter essa situação? 

Compartilhar a informação! 

Falta conhecimento, de uma forma geral. 

Lembra do glitter neon

É hora de juntar o brilho e retomar a voz!

Se posicione, respeito é um direito:

– Não, eu não tenho relações com homens, e gostaria que isso fosse respeitado e não julgado. Estou aqui dando respostas para uma ajuda médica e não por curiosidade alheia.

Procurar por locais que trabalhem com a inclusão, e divulgar! A Nohs Somos está desenvolvendo uma funcionalidade para para serviços amigáveis, porém enquanto não fica pronta, tente perguntar pra sua rede amiga. É importante identificar profissionais que tenham empatia. 

E se você sofrer qualquer tipo de preconceito, não se cale! Denuncie!

No nosso Mapa LGBTI+ você também pode avaliar lugares e contar tudo o que aconteceu. Assim, você gera conteúdo para que outras mulheres LBT+ evitem lugares indesejados e saibam onde estão os locais amigáveis!

Se você quiser indicar algum, também pode comentar aqui embaixo!

Com a união da comunidade LGBTI+ e juntamente com aliades, vamos levar a informação e chegar lá. 😉

Arte por Thadeu dos Anjos

Texto por Dra. Amanda Labadessa

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