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Entenda qual foi o impacto do isolamento social nos jovens LGBTIs+

O artigo, chamado “School is out. Many young people are not – the impact of lockdown on LGBTQ youth” e publicado pela Just Like Us, aborda o impacto do isolamento social observado nos jovens LGBTIs+ do Reino Unido durante a crise do Coronavírus. A Nohs Somos traduziu parte do texto e aproveitou para fazer um pequeno paralelo com a realidade brasileira. A matéria original você encontra no fim deste post!

Mudanças bruscas com o isolamento social

Depois do anúncio do isolamento social no Reino Unido, em março de 2020, iniciado por conta do Coronavírus, não houve escolha: foi necessário se adaptar rapidamente a um modo de vida diferente para garantir a segurança de todos.

A rotina diária foi completamente alterada, muitos dos planos postergados ou cancelados, além de não haver mais encontros com famílias e amigos, o que normalmente acontecia todos os dias. Tem sido difícil para todo mundo. Infelizmente, a situação é especialmente difícil para jovens da comunidade LGBTI+ que estão quarentenados com famílias que não os apoiam.

A Just Like Us, organização beneficente para jovens LGBTIs+ que visa o empoderamento dos mesmos através da educação, realizou uma pesquisa sobre o impacto do isolamento em sua comunidade. A pesquisa indica que jovens LGBTIs+ possam ter maior dificuldade em casa do que jovens cis héteros, já que normalmente os primeiros tendem a se apoiar mais em seus amigos do que em seus familiares; já para seus colegas não-LGBTIs+, a realidade é o oposto.

Para muitos jovens que estão no armário, ir de casa para a escola, faculdade ou trabalho é uma oportunidade de sair e criar uma rede de suporte. Encontrar outros jovens LGBTIs+ e se mudar para longe de casa pode ser o tipo de experiência que muda a vida de muitos que mantêm suas identidades escondidas da família por anos.

Depoimentos

O fechamento de universidades, escolas e locais de trabalho significa que vários jovens LGBTIs+ estão agora separados dos amigos e da família que escolheram e têm que voltar para lares que não os apoiam. A co-embaixadora da Just Like Us, Nicole, diz “Ir de assumida e independente para outra vez no armário e moradora de num lar homofóbico tem sido duro”.

Anna, outra embaixadora, cuja família é católica, conta:

“Eu saí do armário para minha família ano passado, depois de começar meu segundo ano na universidade e a namorar uma garota. Eu sabia que no começo eles não iam levar numa boa, mas pensei que iriam pelo menos ser capazes de entender o que eu havia dito. Agora que estou aqui de novo, mal falam comigo e, quando falam, é para me criticar pelo meu “modo de vida pecaminoso”… Estar morando outra vez na casa da minha família definitivamente prejudicou minha saúde mental”.

As pessoas trans podem enfrentar problemas adicionais. Joel relata:

“Tenho muita sorte de estar isolado com pessoas que são queridas e me dão apoio, mas o que me preocupa são as questões médicas. Isso [o isolamento] está criando várias preocupações sobre a minha transição. Recentemente, eu mudei minha Terapia de Reposição Hormonal de forma injetável para gel.

Tenho que fazer um teste de sangue daqui dois dias, mas meu médico não está fazendo nenhum atendimento presencial, então eu não consigo marcar uma consulta. Se eu não consigo fazer os exames de sangue, também não consigo provar que meus níveis de hormônio estão seguros com a nova Terapia de Reposição Hormonal. Então é provável que meu endocrinologista suspenda a terapia até que a gente possa provar que meu fígado está bem.

Existem outras pessoas trans que estão no mesmo barco. Meu amigo perdeu uma injeção. Como ele tem uma condição que não o permite se auto injetar e a enfermeira não vai marcar uma consulta para fazer isso agora, os períodos de espera, que já eram ridículos – atualmente em torno de 26 meses para a primeira consulta e 20 meses entre consultas na clínica Newcastle – irão aumentar ainda mais depois da pandemia.”

Trancade no armário

Na Just Like Us, trabalha-se com jovens LGBTIs+ em escolas, vários dos quais ainda não saíram do armário para seus amigos e familiares. Agora que as escolas estão fechadas, esses jovens estão com suas famílias 24 horas por dia, e se até então eles não tiveram a chance de construir uma rede de suporte, podem acabar se sentindo muito solitários. Vários deles irão se reprimir por medo da rejeição.

Com a maioria ainda sendo completamente dependente de suas famílias, a Albert Kennedy Trust (programa de caridade para jovens LGBTIs+ sem moradia) recomendou aos jovens LGBTIs+ a não saírem do armário para suas famílias durante a quarentena, por conta das consequências de possíveis reações negativas. Além disso, a possibilidade de que universidades e cursos de graduação comecem a dar aulas online no segundo semestre desse ano pode virar uma grande decepção para aqueles que estavam esperando o início das aulas para se mudar de lares que não os apoiam.

Apesar disso, a Just Like Us decidiu realizar encontros online durante esses tempos difíceis. Assim, os jovens LGBTIs+ que fazem parte da iniciativa estão encontrando maneiras positivas para se apoiarem. Como por exemplo o grupo no Whatsapp, criado por seus embaixadores, que serve para compartilhar dicas de quarentena, tanto relacionadas à comunidade LGBTI+ ou mais gerais, incluindo receitas, trabalhos manuais e dicas de autocuidado. […]

“Estou cuidando de mim mesma tentando novas atividades, me conectando com amigos e evitando me auto julgar sobre tudo”, diz Sophie. “Descobri que fazer listas junto com meus amigos das coisas que queremos fazer depois do isolamento realmente me deu uma perspectiva do que é importante”. […]

Realidade Brasileira

Aqui no Brasil a situação pode ser muito parecida para jovens que estão se isolando. Mas é importante ressaltar que o cenário do Reino Unido é muito diferente do brasileiro, já que por aqui o isolamento social é apenas para uma pequena parcela da população. Ainda assim, no nosso país, muitos LGBTIs+, jovens ou não, estão voltando para casa de suas famílias. Isso acontece não apenas por conta da pandemia, mas também pela crise econômica que vem se agravando.

As particularidades do caso brasileiro vamos debater futuramente em outro post. Até lá, aproveite para conferir uma lista de podcasts LGBTIs+ que a Nohs Somos fez pensando nesse período de isolamento social.

No mais, aproveitamos para perguntar: como você tem passado durante a pandemia? Está conseguindo se isolar? Teve que voltar para o armário? Do que mais sente falta?

Estamos aqui para ouvir vocês!

Matéria original: School is out. Many young people are not – the impact of lockdown on LGBTQ youth por Charlotte Hughes na Gay Times

post por @mrnngdy
arte por @rovaniart

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