Dicas, orientações e maneiras de se proteger durante sexo não normativo. O post é focado na prevenção das pessoas que têm vagina, mas todos deveriam lê-lo!
Peraí, mas o que isso quer dizer?
Por aqui, a gente entende que mulheres não necessariamente têm vagina e homens não necessariamente têm pênis. De qualquer forma, esse post pode ser útil até para mulheres heterossexuais. Afinal, sexo nem sempre precisa envolver um pênis ou penetração! Além disso, se você transa com alguém que tem vagina, mesmo que você não tenha uma, também é sua responsabilidade pesquisar sobre os métodos de proteção adequados.
Independente de como rolar, o importante é se proteger e evitar ISTs.
No consultório
Hoje em dia, a liberdade para expressar orientação sexual é cada vez mais frequente. Assim, o número de lésbicas, bissexuais e trans vem se tornando mais expressivo, assim como sua representatividade nas mídias, espaço de trabalho, entre outros. E no consultório não poderia ser diferente.
É uma pena que apenas quem vivencie isso acabe percebendo tais mudanças! Infelizmente, a indústria da saúde e o mundo mantêm-se firmes sobre a heteronormatização das relações homoafetivas. Estudos e investimentos no combate às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não são suficientemente direcionados à esse grupo.
Obviamente, essa não é a totalidade! Por exemplo, algumas cidades e regiões do nosso país, como São Paulo e São Bernardo do Campo, apresentam projetos e planos inclusivos no tratamento da saúde da população LGBTI+. Porém, se analisarmos de um ponto de vista estrutural, constatamos que ainda temos muito a avançar. Em alguns países, ser LGBTI+ ainda é, inclusive, um crime.
Por aqui, o nosso diálogo vai além do chavão “assuma as consequências de suas atitudes” e é muito mais focado em “Desejo assumir as consequências das minhas atitudes com responsabilidade”. Porém, para chegarmos lá, é necessário muito conhecimento! Então aqui vão algumas dicas de como se proteger na hora do sexo não normativo.
Papo reto: Saúde sexual de pessoas com vagina!
Não iremos pautar essa conversa sob uma ótica romântica. O estereótipo do casal apaixonado que frequenta semestralmente ume ginecologista não é, necessariamente, o foco aqui. Com ou sem relacionamento, ninguém deve deixar de realizar rotina sorológica e pesquisa de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
As pessoas bebem, saem e transam, não necessariamente nessa ordem. E aí fica a questão: quais as maneiras de se proteger durante sexo não normativo com alguém que tem vagina?
Estamos no século 21 e as informações erradas rolam soltas, inclusive no meio médico. É comum a crença de que pessoas com vagina que transam apenas com pessoas com vagina apresentam uma incidência menor de HPV. Inclusive, alguns profissionais da saúde orientam que a coleta de papanicolau para esse grupo não é necessária. Erro gravíssimo!
A realidade é a seguinte: mais de 50% das mulheres entre 20 e 24 anos que já iniciaram a vida sexual estão infectadas com o papiloma vírus humano – o famoso HPV.
O HPV é a IST mais contagiosa e prevalente no mundo. É causador de câncer em colo uterino, vulva e vagina. O maior contágio da doença ocorre em relações heterossexuais. Porém, sua transmissão também ocorre no sexo entre pessoas com vagina. E vale lembrar as outras ISTs, né?
Que o problema existe, muita gente já sabe. Mesmo em relações com pessoas com pênis, com uso de preservativo masculino, ainda existe a chance de transmissão de infecções. Agora, onde está a solução para as pessoas com vagina que transam com outras pessoas com vagina? Esse texto não é apenas uma introdução e traz muita informação – o que já dá uma super ajuda!
Maneiras de se proteger durante sexo não normativo com alguém que tem vagina
- Manter a rotina ginecológica em dia
Realizar a coleta de papanicolau implica em diagnóstico precoce de lesões causadas pelo HPV. Com isso, promovemos o autocuidado, além da possibilidade de tratamentos eficazes em fases iniciais de alguma doença. Essencial, a coleta de sorologias também faz parte da rotina. Procure profissionais que te deixem confortável para ser sincera e que tenham conhecimento sobre as peculiaridades de uma relação homoafetiva.
- Evitar o contato entre secreções
É através da troca de secreções que grande parte das contaminações acontece. Existem algumas posições em que o contato entre as genitálias é muito próximo, dê preferência para realizá-las com quem ganhar sua confiança e coração.
- Evitar o sexo durante o período menstrual
O sangue também é parte das secreções corporais. Logo, ele é um dos principais meios de transmissão de ISTs. Para isso, existe uma alternativa bacana: o disco menstrual para relações. Ele possui formato de meia lua, como se fosse um coletor menstrual, mas sem o “cabinho” que para puxá-lo. O disco permite a penetração de toys ou dos dedos sem fazer bagunça, além de diminuir o contato com as secreções. - Camisinha em tudo!
Para os toys é fácil: camisinha masculina neles! Já para os dedos, existe uma alternativa bastante prática: a camisinha de dedo. O princípio é o mesmo, mas ela protege apenas o dedo escolhido. Pra quem gosta de usar a mão inteira, existe a opção da luva descartável, similar às utilizadas pelos profissionais de saúde.
- Camisinha de língua ou Dental Dam
Além de não ser muito confortável, a camisinha de língua protege apenas a ponta da língua, deixando o restante da boca exposto. Aí entra o Dental Dam: ele é uma folha fina, feita de látex ou nitrila (famoso “plástico”), normalmente utilizado pelos dentistas. Porém, ao usá-lo há uma perda de sensibilidade tátil e gustativa, mas para garantir a segurança no sexo casual é super válido! - Evitar o compartilhamento de acessórios
Aqui o egoísmo é bem-vindo! Pode dividir a cerveja, mas cada um com seu vibrador. O motivo é o mesmo: evitar se expor às secreções dos outros.
- Higiene das mãos e das unhas
Manter as unhas aparadas pode evitar lesões na hora da relação e, com isso, diminuir o risco de se expor a secreções. Além disso, há menos probabilidade de acúmulo de sujeira e microorganismos debaixo das mesmas. - Urinar após a relação
Algo super simples de se fazer. Isso ajuda as bactérias que ficam próximas da uretra a serem eliminadas daquela região, especialmente aquelas que saem da região perineal (região que fica entre o órgão genital e o ânus) e migram, por conta do atrito, para cima. - Observar a região vulvar
Autoconhecimento é fundamental. Observe-se: a presença de pintinhas estranhas, úlceras ou verrugas pode ser um sinal de infecções sexualmente transmissíveis. Às vezes, elas ficam bem escondidas, então é recomendado olhar com cuidado. Se agachar e usar um espelho para observar a região genital pode facilitar bastante. Aproveite esse momento pra se autoconhecer e se paquerar!
- Ter sinceridade e ser responsável
Quando estamos sob infecção de algum vírus, isso também favorece a infecção de outros. Ou seja, você também acaba ficando mais vulnerável. Caso você esteja em tratamento, investigação ou suspeita de alguma IST, é importante ter sinceridade com quem você mantém relações. Além de evitar a transmissão, você exerce o autocuidado e o cuidado com quem você gosta.
Conhecer alternativas que podem nos proporcionar segurança é fundamental. Explore essas maneiras de como se proteger durante sexo não normativo que te ajudam a minimizar os riscos! Divulgue essas informações e procure ginecologistas parceires que possam te acompanhar sem preconceitos e com responsabilidade.
Não conhece profissionais que te acolhem? Ao se cadastrar na plataforma da Nohs Somos, você poderá ter acesso ao nosso mapa LGBTI+. Queremos mapear locais e serviços amigáveis através de avaliações da própria comunidade. Cadastre-se e ajude a co-criar essa iniciativa incrível!
post por Dra. Amanda Labadessa
revisão por Marianna Godoy
arte por Thadeu dos Anjos
5 respostas
O texto foi cuidadoso em quase todos os pontos, mas falhou ao colocar “procure profissionais que te deixem confortável para ser sincera e que tenham conhecimento sobre as peculiaridades de uma relação homoafetiva”, o que desconstrói toda a introdução “inclusiva” pelos seguintes pontos:
1) o tratamento ela/dela (sincera) ao dirigir uma fala para pessoas com vagina.
2) presumir que relações entre pessoas com vagina se resumem à homoafetividade.
O texto foi cuidadoso em quase todos os pontos, mas falhou ao colocar “procure profissionais que te deixem confortável para ser sincera e que tenham conhecimento sobre as peculiaridades de uma relação homoafetiva”, o que desconstrói toda a introdução “inclusiva” pelos seguintes pontos:
1) o tratamento ela/dela (sincera) ao dirigir uma fala para pessoas com vagina.
2) presumir que relações entre pessoas com vagina se resumem à homoafetividade.
Perfeito o texto. Porém: existe alguma possibilidade para algum preventivo adequado para esse caso? Saúde e responsabilidade sempre.